“Como falar dessa terra sem cair no exotismo ou mistificação? O sol majestoso cortejando com seus raios de ouro os tetos de ocre e as paredes vermelhas das medinas, os portões reais e os rústicos, porém majestosos, azulejos, as oliveiras, as laranjeiras vistosas dos frutos amargos, as laranjas saborosas, os pães maravilhosos, as palmeiras suspensas, o sabor diferente do tagine… Como explicar além do olhar do turista e de uma foto tirada às pressas em um tremor mecânico?

Conto sobre esse país à minha maneira: meu Marrocos profundo, esse Marrocos eu vivi sem reservas, com suas virtuosidades e também com o medo do incomum. Com suas alegrias singelas e seus profundos segredos, o destino o entregou avulso, como um presente berbere para mim e eu o ofereço inteiro a vocês. O meu Marrocos é o da fascinação: privada da palavra; o avesso e o direito; a esquerda e a direita; os homens e as ruas; os homens das ruas; as ruas de argila; a pobreza e o luxo; o luxo rústico; as mobiletes; cinco pessoas em uma moto (em momentos, um cachorro em uma moto); as mulheres das medinas; a pashmina e o cajado; a barganha e os souks; a melodia da flauta e a simpatia das dançarinas; o cheiro das especiarias, um êxtase para o olfato. Em uma mesquita em Casablanca, em uma Medina em Fez, em uma praça em Marrakesh e em tantos espaços desse lindo país, deixo meu coração…”